Anteriormente:
– Tem razão. – respondi
– E como eu vou falar com os meus pais? – perguntou Fábio.
– Não vai falar com ninguém da família de vocês até a missão terminar. – respondeu Henrique.
Sexto passo: se infiltrar.
Chegando à CMFC…
– Queremos falar com o seu chefe. – disse para um condenado que estava na porta.
– Quem são vocês? – perguntou o rapaz.
– Eu sou Carla e ele é Charles. – respondi.
– Ouvi falar muito de vocês. –disse o rapaz mal vestido.
Parte XXI
– Dá para nos deixar entrar Marcos? – perguntei dando uma mancada.
– Como você me conhece? – perguntou já desconfiado.
– Conheço muitas pessoas que você nem imagina. Mas me diz: Desde quando você trabalha aqui? – perguntei.
– Faz um tempo.
– Quanto tempo? – perguntou Fábio.
– Acho que umas duas semanas antes do grande roubo.
O grande roubo a que ele se refere, são os roubos que Fábio e eu tínhamos que investigar. Lembra-se? A joalheria, a fórmula, os bancos…
– Você é o chefe de segurança de qual dos bancos? – perguntou Fábio.
– Do segundo a ser investigado. Vocês conheceram uns chatos? – perguntou Marcos.
– Conhecemos tantos chatos. – disse Fábio pelo canto da boca.
– Não qualquer chato. Eu estou falando daqueles agentes, a Rouxinol e o Legião. Conhecem? – perguntou Marcos.
– Claro. Eles sempre estão no nosso pé. – respondeu Fábio.
– Se vocês não gostam daqueles agentes intrometidos podem entrar. Algum dia eu queria me encontrar cara a cara com aquela Rouxinol de novo. – disse ele distraído.
– Para quê? – perguntei.
– Vocês não virão como ela é gostosa? E aquela bundinha dela? Que delícia! – disse ele maliciosamente.
– Põe gostosa nisso. – respondeu Fábio entrando na conversa mais uma vez.
– Charles! Vamos. Não gostei dessa conversa. – respondi irritada por falarem de mim.
Esqueci de citar que não vou escrever exatamente como eles falam, pois são muitas gírias e fica difícil de entender. Só vou citar coisas fáceis de serem identificadas, coisas que você leitor já conhece.
Quando estávamos quase no final do corredor demos de cara com a Bruna e Solange. E Fábio foi logo perguntando:
– Onde é a sala do chefe? – perguntou Fábio.
– Charles, quanto tempo. – disse ela para ele.
– Bruna? – perguntou não reconhecendo a menina.
– É. Se lembra de mim? Você não mudou nada. E pelo visto ainda está casado com a Carla. – disse Bruna para ele.
– Olha aqui garota, eu sou uma das maiores ladras que esse mundo já conheceu, ou você para de dar em cima Charles ou vai se entender comigo. – respondi nervosa.
– Fica calminha Carla. Só fiz uma brincadeirinha, não foi Charles? – respondeu Bruna sorridente.
– Claro que foi. Mas você ainda não me falou onde é a sala do chefe. – respondeu Fábio.
– A última porta a direita. – respondeu Solange.
– Vou lá ver o que o chefe quer conosco. – respondeu Fábio.
– Espera um minuto. – disse Solange repentinamente.
– Todo mundo sabe que o chefe não vem aqui na CMFC.
– Claro que não vem. Você quer que descubram quem ele é? – perguntei disfarçando o erro cometido.
– Eu o conheço. E meu namorado também. -completou Solange com o olhar fixo em Charles.
– Seu namorado? –perguntou Fábio surpreso.
– É. Estou namorando o Otávio faz mais de três meses. – respondeu Solange.
– Vamos parar de papo e vamos logo ver quem está nos chamando, Charles. – respondi com uma entonação de ciúmes na voz.
Quando finalmente chegamos à sala do chefe:
– Demoraram. – disse Otávio nos recebendo.
– É que nós estávamos… – mas quando eu olhei e vi o Otávio eu não consegui terminar a frase.
– Estavam? – perguntou ele querendo que eu continuasse.
– Estávamos fazendo alguns trabalhos por ai. – respondi rapidamente.
– Entendo. Bom… Vocês vão aceitar o emprego ou não?
– Porque você acha que estamos aqui? – perguntou Fábio.
– Tem razão. Venham comigo vou mostrar o quarto de vocês.
Quando chegamos ao quarto:
– Aqui está. Carla você pode vir aqui um instante?
– Claro. – aquilo saiu rasgando a minha garganta. Como se eu fizesse de tudo para não falar.
Otávio me agarrou e começou a falar várias coisas sem sentido para mim:
– Então gostosa, vamos terminar o que começamos? Deixa esse mané do Charles aí. Eu já disse que a Solange não interessa para mim.
– E a agente Rouxinol? – perguntei.
– Eu já te disse que você é gata, gostosa, mas a agente vai ser minha, e não interessa se você estiver comigo, eu sei que você não é ciumenta. Dou um jeito nas duas, se é que você me entende! – respondeu ele sem tirar as mãos de mim.
Ainda bem que eu tinha um comunicador com o Fábio. Ele tinha escutado tudo e fez barulho para o Otávio parar me agarrar.
– É melhor você ir, o seu marido está chamando. – disse ele me soltando.
– Eu não o escutei chamando. –respondi sem pensar.
– Então você quer assumir que estamos juntos? – perguntou Otávio.
– Não. O Charles me mata se ele souber.
– Eu protejo você. – respondeu ele confiante.
Quando eu voltei para o quarto nós trancamos a porta (que era a prova de som) e verificamos se tinha escutas no quarto. Sabíamos que a porta era a prova de som por que verificamos também. Não encontramos nada. Então começamos a arrumar aquilo que eles chamavam de quarto e começamos a conversar:
– O que será que o Charles teve com a Bruna? – perguntei pensativa.
– Não sei princesa, mas coisa boa é que não é. – respondeu-me.
– Você ouviu o que o Otávio me falou? – perguntei.
– Tudo. – respondeu preocupado.
– O que você acha? – perguntei para tentar aliviar o clima que está se formando naquele quarto.
– Acho que estamos em uma encrenca. – disse me abraçando.
– Não vou agüentar ficar muito tempo aqui. – respondi.
– Temos que agüentar o tempo que for necessário. – me respondeu tristemente.
– Onde tem um espelho? – perguntei procurando pelo quarto.
– Para quê? – perguntou pensando que eu iria passar batom ou algo parecido.
– Quero tirar essa máscara facial. – respondi sem rodeios.
– Você está louca? E se pegam à gente sem máscara? – perguntou preocupado com a situação.
– Não vão pegar. – respondi.
– Como você tem tanta certeza? – perguntou desconfiado.
– Em todo o prédio cada porta tem só três chaves. – respondi.
– O que isso tem a ver com a mascara? O Otávio está com uma chave. – disse ele sem entender.
– Não está não. Eu peguei quando ele estava me agarrando. – respondi mostrando a chave.
– Que bom. Eu também não agüento mais essa mascara. – respondeu já tentando tirar a mascara.
Tiramos a máscara e logo depois terminamos de arrumar o quarto.
– Pronto. Agora precisamos de um colchão. – disse Fábio.
– Eles não vão dar Fábio. – respondi.
– Porque não? – perguntou sem entender.
– Se esqueceu que somos casados? A cama de casal é de propósito. – disse pensando em uma solução.
– Então eu durmo no chão mesmo. – respondeu já pegando um travesseiro.
– Nada disso. Eu não vou deixar você dormir no chão. Temos que dar um jeito nisso.
– Vamos ligar para o Henrique. – disse Fábio sem idéias.
– Cadê o C.A.?
– Está na mochila. – respondeu.
Quando o Henrique atendeu:
– Oi maninho. – disse para ele.
– Oi maninha. Então como estão as coisas? – perguntou Henrique.
– A Bruna teve alguma coisa com o Charles, o Otávio quer que a Carla fique com ele, e só para dificultar a namorada do Otávio é a Solange.
– Você está me dizendo que o Otávio quer trair a Solange com a Carla e desistiu da Tati, quer dizer, desistiu de você? –perguntou Henrique confuso.
– Seria bom. Mas ele não desistiu de mim. – respondi com raiva.
– Que encrenca!
– E para piorar esse lugar é imundo. – respondi.
– Era de se esperar Tati. – disse ele com jeito de “eu te avisei”.
– Só mais uma coisa. Só tem uma cama de casal no quarto. – disse para ele.
– Uma cama de casal? Não tem colchão? – perguntou indignado.
– Não. – respondi
– senão tem colchão, não é para nenhum dos dois dormir no chão.
– E vamos fazer o que então? – perguntei.
– Serrem a cama no meio. – disse ele sério.
– Adorei a piada, maninho. – respondi.
– Foi mal, mas é que eu não posso fazer nada. Ou dorme um no chão ou os dois dormem juntos. Mas vê lá, nada de dormir juntinhos, abraçadinhos. É cada um de um lado. – respondeu ele desaprovando a idéia.
– Você acha melhor dormimos juntos? – perguntei espantada.
– Para falar a verdade preferiria que um dos dois dormisse no chão, mas é que se um dos dois ficar doente vão descobrir vocês.
– Como assim? – perguntei.
– É que a voz vai voltar ao normal e a máscara vai se desfazer, e com isso é claro que vocês vão ser mortos. – respondeu Henrique sentido.
– Certo já entendemos a mensagem. – respondi.
– E vocês descobriram quem é o traidor? – perguntou curioso.
– Não. A Solange disse que ele nunca vem aqui na agência. Mas quem sabe vigiando o Otávio e a Solange nós não descobrimos alguma coisa. – disse para ele.
– Temos que rezar para que isso dê certo, ou teremos problemas.
– Nós já temos muitos problemas. Mais um não vai fazer mal. – disse como senão tivesse importância.
– Tudo bem Tati. Se você quer ficar anos convivendo com os bandidos eu dou um jeito. –disse Henrique.
– Você está louco Henrique? Eu quero sair correndo daqui.
– Em menos de uma semana vocês não conseguem sair daí. – disse Henrique meio triste.
– Tem gente batendo na porta temos que desligar. – respondi.
Colocamos a máscara rapidamente e abrimos à porta.
– Quem é Charles? – perguntei.
– Sou eu, por quê? – respondeu o homem na porta. – Chegou um pacote para você. – disse ele para Fábio.
– Pacote? – perguntou surpreso Fábio.
– Isso. Vai receber ou não? – perguntou o homem.
– Claro que vou. – respondeu.
Quando o rapaz foi embora…
– De quem é Fábio? – perguntei curiosa.
– Não sei. Me deixa abrir primeiro? – perguntou impaciente.
– Claro. – respondi normalmente.
Primeiramente ele abriu o cartão que dizia:
“Oi Fábio. Lembra de mim? Desse jeito é claro que não vai lembrar, sou eu, a Isabela. O que tem nesse pacote a Tati não pode ver, esconda dela. Fale que isso é um pacote para o verdadeiro Charles, não sei, inventa alguma coisa. Só para você não ficar desconfiado o que tem dentro da caixa é o diário da Tati. Nele com certeza diz onde ela escondeu a fita, que acho que você ainda não desistiu de encontrar. Você deve estar se perguntando se eu li o diário. Mas é claro que li. Agora eu e ela estamos quites. Ela sabe onde eu coloquei a minha fita e eu sei onde ela colocou a fita dela. Faça bom proveito, e não fique com ciúmes quando ela citar algo sobre o Gabriel, lembre-se que ela ainda não te conhecia quando escreveu esse diário. E só para você saber, eu também sei tudo sobre o parentesco dela com o Henrique. Não tenho raiva da Tati. Tento ajudá-la sem ela saber, e cheguei à conclusão de que você e o Henrique vão precisar saber das coisas que contém nessas fitas. Ah, o traidor da agência não é o coitado do JJ. O Henrique sabe por quê. Mas queria saber quem era para poder ajudar, mas como não sei… Bom é melhor eu parar por aqui, a Tati deve estar te perturbando querendo saber o que está escrito nesse bilhete. Não esquece: a Tati não pode saber de nada sobre o diário dela”.
Sabíamos que a carta, ou melhor, o pacote não seria interceptado por que todos os bandidos costumavam receber drogas e várias outras coisas na CMFC por correio.
– Então de quem é? O que diz? Pode ser útil? Pára de suspense e me diz logo: O que tem no pacote? – perguntei.
– Calma Tati. Só tem uma fita.
– Fita de vídeo? De quem? O que tem na fita? – perguntava curiosa.
– É de um amigo do verdadeiro Charles. –mentiu Fábio.
– E o que tem na fita? – perguntei ainda mais impaciente.
– Tem… Tem…
– Fala logo.
– Tem o Charles assaltando um banco. O bilhete diz que para o Charles não ser preso de novo o cara roubou a fita de segurança para que ninguém vice o Charles. – respondeu Fábio sem jeito por causa da mentira.
– Que droga eu pensei que era algo legal. – respondi desanimada.
– Tati eu estou cansado, vou dormir.
Fábio escondeu o diário em um lugar que eu não consegui achar. Mas na hora eu nem procurei. Fui dormir também. Afinal já eram 02h00min da manhã, e lá não teríamos as máquinas para tirar o sono.
No dia seguinte nós acordamos com a gritaria do corredor. Colocamos as mascaras nos trocamos e saímos para ver o que estava acontecendo.
– O que foi que aconteceu? Para que tanta gritaria aqui? – perguntei na porta do quarto para um pessoal que estava correndo.
– É que o Otávio convocou todos. – respondeu um rapaz para mim.
– Para quê? – perguntou Fábio.
– Ninguém sabe. Temos que ir para o salão de treinamento para que o Otávio conte.
Mas é claro que na mesma hora fomos correndo para o tal salão. Chegando lá encontramos vários criminosos que eu já tinha prendido, e todos estavam aglomerados em volta de uma mesa redonda de madeira.
Quando conseguimos chegar perto vimos várias coisas em cima da mesa, como se aquela mesa fosse um depósito, ou o próprio laboratório de um bom cientista. Vimos várias coisas inclusive plástico derretido, e ouro também derretido. Então Otávio começou a falar:
– Detestáveis companheiros de crime, acabam de descobrir que os nossos maiores inimigos, a minha querida Rouxinol e o imprestável do namorado dela estão querendo se infiltrar na nossa detestável agência.
– Que bom. Temos policiais a nosso favor. – disse um novato.
– É aí que vocês se enganam. Eles querem acabar com a nossa detestável agência e não é só isso. Eles também querem nos prender. – disse Otávio em alto e bom som.
– E como você pode chamar uma polícial de querida? – perguntou um velho no canto da sala.
– Porque nós vamos nos casar. – respondeu ele sorridente.
– E a Solange? – perguntou uma ladra mal vestida e fumando.
– A Solange vai se casar com o agente Legião.
– Então porque eles odeiam tanto vocês? – perguntou Marcos.
– Isso não é da sua conta, senhor Marcos. Eu os convoquei aqui para falar que vocês passaram por um teste só para que tenhamos certeza de que são bandidos. – respondeu Otávio olhando para todos os lados.
– E que tipo de teste será? – perguntei.
– Não vou falar Carla, quem sabe os agentes já estejam entre nós. Mas como você é uma ótima criminosa não precisa se preocupar. Agora podem ir praticar algum crime. Divirtam-se.
– Carla eu tenho que fazer um negócio, mas já volto. – disse-me Fábio.
– Tudo bem. – respondi sem entender.
Voltei para o meu quarto e fui reforçar o meu disfarce, mas em menos de dez minutos alguém bate na porta:
– Pode entrar. – respondi para a pessoa.
– Oi Carla! – disse Otávio.
– O que você está fazendo aqui Otávio? – perguntei olhando ele pelo espelho e vendo uma expressão estranha em seu rosto.
– Vim te ver. – respondeu.
– Que gentileza sua. – disse baixo e bem irônica.
– Como? – perguntou sem entender nada.
– Nada não. – respondi me virando para vê-lo.
– Então vamos aproveitar que seu marido foi dar um passeio e… – disse arrancando a minha blusa e tentando tirar o meu sutiã.
– Sinto muito. Tenho negócios para resolver. – respondi colocando a blusa novamente.
Naquela hora tentei me comunicar com o Fábio, mas por algum motivo o comunicador dele estava desligado. Não sabia o que fazer para fugir do Otávio até que tive uma idéia:
– Porque você não vai pegar uma jóia para me dar de presente? – perguntei com ar de interesseira.
– Eu te dou quantas jóias você quiser. – respondeu tentando tirar meu cinto.
– Eu quero todas e tudo que você sonhou algum dia em dar para aquela agente. – respondi abraçando ele.
– Que agente? A Rouxinol? – perguntou já me afastando.
– Ela mesma. Para você encostar o dedo em mim você vai ter que esquecer ela e me dar tudo que você algum dia quis dar para ela. Eu quero e sou melhor que ela então mereço o que é dela e muito mais. – respondi fingindo estar nervosa.