Anteriormente:
– Não faria tudo àquilo de novo. Não faria aquele processo todo que fiz para me parecer com a Carla.
– Não precisa. Uma peruca e no máximo uma mascara facial já é mais que suficiente. A senhora Sara Morais nunca desconfiaria, acho até difícil desconfiar. Ela está doidinha, nunca te reconheceria.
– Não sei. – respondi insegura.
– Vou mandar fazer a marcara. Se você arrumar uma idéia melhor…
– Tudo bem. Vou pensar. – respondi.
Parte V
– Se não pensar em nada melhor você vai visitar Sara comigo e vai ser a Solange. Sara não se recusaria a falar nada para a Solange.
– Nisso você está certo. – respondi indo dormir.
No dia seguinte as crianças acordaram um pouco melhores. Guilherme estava até sorrindo, pouco, mas estava sorrindo. Yasmim estava feliz e curiosa para saber a nossa resposta sobre deixá-los sozinhos em casa.
– Bom dia! – disse Yasmim animada ao se sentar-se à mesa.
– Bom dia! – disse Guilherme ainda sonolento.
– Bom dia! – respondi para os dois.
– E o papai? – perguntou Yasmim.
– Ele está acabando de se trocar. – respondi
– E a nossa resposta? – perguntou logo Guilherme.
– Podem ficar… Mas se seu pai e eu precisarmos viajar vocês vão ter que ir para a casa do seu tio. Tudo bem para vocês? – perguntei.
– Tudo ótimo. – responderam
– Ah esqueci de falar que vocês podem organizar a festa de aniversário de vocês do jeito que quiserem.
– Sério? – perguntou Yasmim animada.
– Sério. – respondi.
– Não precisa da imprensa nem daquele pessoal chato de sempre? – perguntou Guilherme.
– Não. Sem gente chata. Só que vocês são obrigados a convidar sua família chata… – brinquei com eles.
– Que família chata? – perguntou Fábio chegando.
– Bom dia pai! – disseram os dois para Fábio.
– Bom dia crianças. Pelo visto sua mãe já contou da festa. Que pena! Eu queria ver a cara de vocês…
– Ela já contou. E adoramos a noticia. – respondeu Yasmim alegremente.
– Que bom! – respondeu Fábio. – Mas e você princesa? Decidiu se vamos ou não visitar Sara Morais?
– Não quero ir.
– Conseguiu achar um plano melhor que o meu? – perguntou Fábio me observando.
– Não.
– Ótimo. A Mascara está pronta. Está na agencia. Só vou ter que ir procurar onde deixei a sua peruca loira. – disse ele me olhando alegremente.
– Legal! – respondi desanimada.
– Vai se disfarçar mãe? – perguntou Guilherme. – De quem? Carla de novo?
– Solange Morais. – respondeu Fábio rindo.
Estéfanny fez cara de quem também não gostou da idéia de eu me vestir de Solange.
– Mas não é uma ex-namorada sua, pai? Uma que a mamãe odeia por sinal? – perguntou Guilherme.
– Essa mesmo. – respondeu Fábio ainda sorrindo.
– Continua sorrindo e vai dormir no sofá. – respondi irritada para ele.
– Não está mais aqui quem sorriu. – disse Fábio comendo uma torrada.
– E quando vamos entrar para a agencia? Já vamos completar 13 anos. – disse Yasmim.
– No dia do aniversário de vocês. – respondi. Agora vão escovar os dentes que vou levá-los para a escola hoje.
– Papai ainda não está pronto. – disse Guilherme.
– Ele vai até a agencia arrumar meu disfarce. Encontro-me com ele lá. Afinal não podemos ir para essa missão com o carro da agencia. Afinal aquela velha chata pode reconhecer.
– Nossa mãe! Nunca ouvi você falar de ninguém assim. – disse Guilherme. – A não ser da vovó. –acrescentou disfarçadamente.
Meia hora depois fui para a agencia e Fábio estava à minha espera na nossa sala.
– Que bom que você chegou princesa.
– Está tudo pronto? – perguntei ainda um pouco irritada.
– Só falta você se trocar. – respondeu Fábio.
– Já vou. – disse indo na direção do closet.
– Amor não precisa ficar assim. É só mais uma missão e você vai ficar parecida com a Solange por pouco tempo.
– Eu sei. Mas mesmo assim não gosto da idéia. Eu odeio a Solange. – respondi nervosa.
– Eu sei. Eu também odeio e sei como se senti. Se eu tivesse que me vestir do Otávio para uma missão iria, mas ficaria muito mal com isso. Sei como se senti.
– Serve de consolo. – respondi entrando no closet.
Quase uma hora depois no Manicômio Nova esperança:
– Bom dia! Viemos visitar a senhora Sara Morais. – disse Fábio á recepcionista.
– E vocês são parentes? – perguntou a moça.
– Eu sou o genro dela e essa é a filha dela. – respondeu Fábio.
– Que bom que vieram. Faz algum tempo que não vem ninguém visitá-la. – respondeu a moça sorrindo. – Me acompanhem.
Dez minutos depois já estávamos com Sara em um jardim.
– Nossa querida você está mudada. – disse Sara me abraçando.
– O tempo faz isso conosco mãe. – respondi tentando sorrir.
– Não sabia que tinha se casado com o Fábio… Você nem vem aqui no convento me visitar.
– Convento? – perguntei para Fábio baixinho.
– Ela está louca lembra? – perguntou Fábio ainda mais baixo.
– Tem visto a Thais mãe? – perguntei.
– Faz tempo que ela não vem aqui, mas porque você não se casou aqui no convento? Seria tão bonito…
– Não nos casamos na igreja senhora Sara. – respondeu Fábio.
– Que pena! Mas que engraçado… Pensei que você estaria deformada filha…
– Deformada? – perguntei sem entender.
– Claro. Depois que aquela retardada da ex-namorada do Fábio… Como é o nome dela? Rosana? Rouxinol? Depois que ela tentou matar você, pensei que estaria com pelo menos alguma cicatriz… – disse Sara meio confusa.
– A cirurgia plástica ajuda muito mãe. – respondi.
– Mas fale da Thais senhora. – pediu Fábio.
– Pensei que vocês iriam me dar noticias dela. –disse Sara.
– Nós? Porque nós? – perguntou Fábio.
– Faz muito tempo que ela não vem aqui. Filha ingrata! E você também Solange. Mas esqueça isso. Quero que conheça a madre superiora.
– Quanto tempo faz que a Thais não vem te ver mãe? – perguntei.
– Madre! – chamou Sara. – Madre quero que conheça minha filha.
Uma senhora se aproximou.
– É filha dela? –perguntou à senhora.
– Sou. E esse é meu marido. – respondi.
– Como está minha sogra? – perguntou Fábio.
– Pensa que está em um convento, quer se dedicar a Deus, mas reconhece todos.
– Todos? Mais alguém vem visitá-la?
– Sim. Sua irmã, pelo menos é o que Sara diz.
– Ela vem sempre? – perguntou Fábio.
– Faz um tempo que não vem, mas na ultima vez que veio trouxe o marido e o filho. Desculpe tenho que ir.
– Espere madre! Vamos rezar. – gritava Sara para a senhora que se afastava.
– Vamos embora senhora Sara. Temos que trabalhar. – disse Fábio me puxando.
– Mas já? Não vão nem rezar comigo? –perguntou Sara inconformada.
– Não dá. Vamos nos atrasar.
– Voltem mais vezes. Vou rezar para que aquela Rosana não chegue perto de vocês e nem da Thais.
– Tchau. – dissemos Fábio e eu.
Quando nos afastamos um pouco fui logo perguntando para o Fábio:
– Porque fez isso? Precisamos descobrir sobre a Thais.
– Já descobrimos o que queríamos. Precisamos encontrar os registros para descobrir quando foi a ultima vez que ela esteve aqui e com quem.
– Já está comprovado que a Thais se casou e que tem um filho.
Na recepção:
– Somos da policia precisamos dos seus registros de entrada e saída dos visitantes.
– Desculpe senhor. Posso ver o mandato?
– Não trouxemos o mandato. Somos da CMCC. – disse Fábio.
– Aqui é uma clinica particular não fornecerei nada sem o mandato.
– Mas é caso de vida ou morte. – respondi.
– Desculpe não posso. São normas da clinica.
– Obrigado, mas pode pelo menos nos informar quem paga a clinica para uma certa pessoa? – perguntou Fábio.
– Desculpe senhor não posso. Volte com um mandato, por favor.
De volta na agencia…
– Como foi com a Sara? – perguntou Henrique quando chegamos.
– Estamos quase lá. Precisamos de um mandato de busca para saber mais. – respondeu Fábio.
– Vai demorar um pouco para sair. O que vão fazer enquanto isso? – perguntou Henrique
– Verificar a fita de segurança do banco de alguns dias antes da explosão. – respondi.
– Mas para que ver as fitas de segurança? E dos dias antes do acidente? – exclamou Fábio.
– Para ver se não foi armação da Thais.
– Está achando que ela forjou a própria morte? – perguntou Henrique.
– Se ela tem um filho… Acho que iria fazer de tudo para estar perto dele ou dela se for o caso. – respondi indo falar com o Evandro.
– Sua irmã não está muito bem hoje. – disse Fábio para Henrique.
– Está estressada. Percebi! – disse Henrique.
– Evandro preciso da fita de segurança do presídio de segurança máxima na cela de Thais Araújo uma semana antes de sua morte.
– Vou localizar, mas pode demorar algumas horas. O vídeo é antigo.
– Deixe na minha sala quando encontrar e mande o JJ ir à minha sala. Preciso falar com ele.
– Tudo bem Rouxinol.
Meia hora depois JJ estava na minha sala.
– Prazer em vê-la senhora.
– Obrigada JJ. Fazia muito tempo que não nos víamos… Preciso de um favor seu.
– Pode falar. Se estiver ao meu alcance…
– Está ao seu alcance sem duvidas.
– Do que se trata senhora? – perguntou JJ
– Infelizmente preciso ir ao médico, preciso que me substitua de um jeito que ninguém, nem mesmo o Fábio, saibam que eu sai. – respondi
– Para que quer sair escondida do seu marido? Sei que não precisa responder, mas estou curioso.
– Curioso? Pensei que robôs não tinham sentimentos. – respondi. – Me desculpe se fui grossa. Não foi a minha intenção. – inclui rapidamente.
– Tenho um chip novo. – respondeu o robô.
– Que bom! Então vai fazer esse favor para mim?
– Quando? – perguntou JJ
– Não sei ainda. Tenho que ver um dia que Fábio não desconfie. – respondi pensativa.
– Desculpe, mas não posso colaborar para a traição do seu marido. Gosto muito do senhor Legião.
– Traição? – perguntei incrédula. – Não vou trai-lo.
Lá para as três da tarde JJ2 bate na porta.
– Entre. – respondi
– Aqui está o vídeo que pediu senhora. O senhor Legião já está vindo para cá. – disse JJ2 colocando a fita na minha mesa.
– Obrigada JJ2.
E o robô saiu.
Uns dez minutos depois Fábio chegou.
– Desculpe a demora princesa. Estava ensinando um novato a atirar. – respondeu Fábio entrando.
– Sem problema Fá. Nem toquei nas fitas ainda. Estava arrumando as financias da agencia. – respondi.
– Precisamos ver as financias da nossa casa. Isso é realmente algo importante. – disse ele rindo.
– Preciso ver isso com calma. Vejo em um dia de folga.
Fábio apenas sorriu e se sentou.
Foi o tempo deu guardar os papéis que estavam na mesa e Ricardo bateu na porta.
– Entre. – disse Fábio.
– Seus filhos estão ai. –disse Ricardo.
– Mas ainda são 15h28min da tarde. – respondi olhando no relógio.
– Mando eles entrar? – perguntou Ricardo um pouco impaciente.
– Pode mandar. – disse Fábio pausando a fita que iria começar a rodar.
Dois minutos depois Yasmim e Guilherme estavam na nossa sala olhando tudo atenciosamente.
– Posso saber o que os dois estão fazendo aqui? Porque não estão no curso de informática? –perguntou Fábio.
– Estávamos passando e resolvemos entrar. – disse Yasmim.
– O professor dispensou agente depois da prova. – disse Guilherme.
– E vocês fizeram a prova em menos de vinte minutos? – perguntei desconfiada.
– Eu fiz em cinco minutos e a Yasmim em oito. – respondeu Guilherme.
– Estão ocupados? – perguntou Yasmim.
– Um pouco. – respondeu Fábio.
Foi quando bateram na porta novamente.
– Entre. – disse Fábio desanimado.
– Desculpe senhora, mas tem uma senhora na linha 3 querendo falar com a senhora. – disse JJ2.
– Que senhora? – perguntei.
– JJ disse que é a ligação que a senhora pediu mais cedo para ele. – respondeu JJ2.
– Obrigada. Vou atender.
E JJ2 saiu novamente.
Fábio olhou curioso para mim.
– Do que se trata? – perguntou Fábio.
– Depois te falo. –respondi olhando para as crianças.
– Porque não podemos saber quem é? – perguntou Guilherme.
– É coisa da investigação. – mentiu Fábio.
Fui para o closet atender para que ninguém escutasse a conversa.
– Pronto. – respondi ao telefone.
– Senhora Tatiana Purpuse Queiroz? – perguntou a voz.
– Sou eu mesma.
– Seu assistente me ligou. Qual o problema?
– Não quero conversar pelo telefone. Tem uma hora? – perguntei.
– Vou verificar… Tenho. Amanhã. Pode ser? – perguntou a moça.
– Não tenho certeza. Marca. Qualquer coisa eu ligo.
– Tudo bem. Está marcado. Amanhã às nove da noite. Seu marido vem junto? Precisa de quantas vagas no estacionamento?
– Uma só. Meu marido não vai. – respondi.
– Tudo bem. Até amanhã senhora Queiroz.
– Até.
Voltei para a sala.
Estéfanny e Guilherme estavam escutando atenciosamente a explicação de Fábio de cada botão de uma certa gaveta da mesa.
– Aconselho os dois a irem para casa estudar. – disse entrando na sala.
– Mas mãe… – começou Guilherme.
– Sua mãe está certa. Nós precisamos trabalhar. – disse Fábio.
– Deixe nos ajudá-los. –pediu Yasmim.
– Não é mais um estudo dos dois. Isto aqui é uma missão de verdade. – respondi.
– Mas mãe… Pai… – começou Yasmim.
– Vão ficar com seus tios. – disse Fábio.
– Não vamos abrir a boca. – disse Guilherme.
Fábio e eu nos olhamos por algum tempo.
– Tudo bem. Mas se atrapalharem saem na hora. – respondi.
Os dois explodiram de felicidade quando Fábio colocou o vídeo para rolar.
Ficamos até as oito da noite assistindo.
As crianças realmente não abriram à boca. Pelo contrário até pegaram pipoca para assistir o vídeo da investigação.
Desligamos tudo e fomos para casa.
– Vão os dois tomar banho e dormir. Estão com fome? – perguntou Fábio.
– Não. Comemos demais na agencia. – disse Guilherme.
– E você Yasmim? – perguntei.
– Também comi demais.
– Ótimo. Os dois para a cama. – disse Fábio.
Fábio e eu tomamos banho e assistimos mais um pouco da fita que era realmente intediante. Só mostrava a Thais para lá e para cá na cadeia. As poucas pessoas que ela conversava ela não falava nada de interessante.
Perto das onze da noite desligamos para dormir.
– Quem era no telefone? – perguntou Fábio de repente.
– Telefone? – me fiz de desentendida.
– Na agencia. Quando as crianças estavam lá. Quem era? – insistiu Fábio.
– Ninguém importante. – respondi me virando para dormir.
– Tatiana..; – disse ele em tom de atenção. – O que você está me escondendo? – perguntou Fábio desconfiado.
– Nada importante. Quando eu tiver certeza te falo.
– Certeza do que? – perguntou.
– Não estou te traindo.
– Sei que não. Se quisesse me trair eu nunca desconfiaria. E eu confio em você. O que você está me escondendo?
– Não notou nada diferente em mim? – perguntei.
– Não.
– Nada fora do comum?
– Não. Aonde quer chegar? – perguntou Fábio.
– Veja o dia. Tem certeza que está tudo certo comigo? – perguntei.
– Sua menstruação está atrasada? – perguntou ele indignado.
– Está.
– Pelo visto você vai ao médico.
– Vou. Pretendo. Mas não queria que se preocupasse. Não queria nem que soubesse, mas o tonto do JJ pensou que eu iria te trair e deu um jeito de fazer com que você soubesse do telefonema. – respondi.
– Não estou preocupado. Seria bom ter outro filho, mas é impossível. – respondeu Fábio pensativo.
– Eu sei. Mas é melhor garantir.
– Princesa você toma a pirula todos os dias. Nunca esqueceu. É impossível você engravidar.
– Sei que é. Mas vou para ficar tranqüila. Vai ser melhor um médico me falar isso.
– Você é que sabe. Quer que eu vá com você? – perguntou Fábio gentilmente.
– Não obrigada. Vai ser à noite. É melhor você ficar com as crianças.
– Pensando bem… Não seria bom ter outro filho? – perguntou Fábio pensativo.
– Outro? Deus me livre. Estou velha de mais para mais um.
– Velha? Você tem só 34 anos.
– Sou velha para engravidar. E não quero ter outro filho. Dois já está bom. – respondi.
– Seria bom ter uma criança correndo pela casa de novo. – comentou Fábio.
– Mas não seria bom acordar de madrugada para dar mamadeira. – reclamei.
– E uma criança falando pela primeira vez. – comentou Fábio.
– Enjôos e aquela barriga enorme… – reclamei.
– Aquela mãozinha, aquele pezinho. As roupinhas… – comentou Fábio.